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As portas de um hospital

As portas de um hospital
Elisa Carvalho
mai. 3 - 3 min de leitura
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"As portas de um hospital são inferno e paraíso ao mesmo tempo. Ali choram parentes por seus entes queridos que se foram. Ali também, parentes riem e choram de alegria, por seus entes queridos curados, que vão para casa. Ora lágrimas de dor, ora lágrimas de alegria. Angústias esmagadoras, esperanças desesperadas agarram-se às macas ensanguentadas que correm pelos corredores do pronto-socorro, numa última tentativa de tocar o ente querido acidentado. Mas as portas, frias e sem alma, se fecham atrás deles, deixando na sala de espera três ou quatro corações disparados, apertados, dilacerados... Mas cheios de fé e esperança em que os médicos farão "algo" para salvar a vida tão preciosa...

Muitas vezes, não sabemos sequer o nome do paciente - a emergência é tão severa que detalhes burocráticos são ignorados. A luta insana começa e se prolonga, às vezes, por horas.

Ali é o fim ou o recomeço de uma vida. Após os extenuantes minutos em que cinco ou seis profissionais atuaram intensamente, chega-se ao veredito: salvo, estabilizado... Ou morto. A sala de emergência não oferece muitas opções além dessas duas. Ao terminar o trabalho, o médico de plantão já sabe que, do outro lado daquelas portas, alguns corações palpitam acelerados, esperando sempre com um débil fio de esperança, que ele, o médico, poderá reforçar, ou simplesmente acabar de romper. Assim são as portas de um hospital: ao mesmo tempo, paraíso e inferno."

Este é um trecho de um artigo escrito pelo Dr. Paulo André Chenso, e publicado na Folha de Londrina em 20/01/2016. Dr. Paulo foi médico, pesquisador, historiador, escritor, poeta, desenhista, mas esse artigo, me parece de um professor sensível, tentando explicar o quão difícil é estar do outro lado, dentro daquelas portas frias e sem alma, ou ainda, de um desabafo poético e sincero diante da impotência humana perante a morte.

Independente da intenção do Dr. Paulo André Chenso neste artigo, é possível ao leitor, caso queira, exercitar a empatia, e se em 2016 essa sensação de impotência já rondava hospitais e profissionais da saúde, por certo que hoje essa angústia é infinitamente maior.

No dia 25/03/2021, Dr. Paulo André Chenso partiu vítima de Covid-19, e deixou o Paraná mais triste, pois quando partiu, levou com ele, o pai, o vizinho, o amigo, o colega de trabalho, o médico e o poeta. 

Essas eram as várias faces de um único homem que sempre será parte da história de todos nós!

 

#vamospassarolutojuntos


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